Ouço que ter saúde é estar saudável. Será?
Estar saudável, da forma leiga de ver, é não perceber no meu
corpo físico nenhuma mazela ou doença que me traga dor ou sofrimento. Enquanto
não enxergo nada parecido com isso, penso estar saudável.
Mas, será que estou saudável somente pelo fato de não me ver
doente?
Essa pandemia me fez enxergar que muitos de nós tememos
contrair a doença do Covid-19, mas nos esquecemos que outras doenças até mais
mortais, estão nos envolvendo dia após dia.
Estamos em casa há mais de um ano, alguns muito bem com esta situação, outros, nem tanto, mas a vida
continua. E se continua, não podemos nos acomodar no sofá de nossa casa.
Não estou aqui defendendo que todos devemos sair de casa e
ignorar o momento em que vivemos, mas, que precisamos lembrar que, mesmo em
casa, necessitamos perceber que não há como ignorar que ainda estamos sobre a
influência da vida e seus reflexos e, se não nos apercebermos, estados doentios
podem ser adquiridos, sejam eles físicos, psicológicos ou espirituais.
Começo pelas doenças físicas, porque vivo num corpo material
que me abriga e protege, que me dá todas as oportunidades para um aprender mais
seguro, mas que também necessita de cuidados.
Se eu sou ou não uma pessoa portadora de uma doença
pré-existente ao Covid-19, não posso dar às costas à minha saúde, devendo ir ou
voltar aos médicos para os check-ups necessários. Muitos de nós estamos
deixando de buscar tais profissionais com medo de morrer pela “doença da vez”,
esquecendo que podemos morrer ou adquirir mazelas da doença que já portamos. Outros
de nós, que faziam consultas preventivas ou reguladoras, também deixaram de ir.
No início da pandemia, esse comportamento era o mais acertado,
porém, depois de tanto tempo e sem data para a cura desta doença, é necessário
se perguntar se as datas de retorno às consultas médicas, por exemplo, já não foram em muito ultrapassadas a ponto
de ser imprudência esperarmos mais um pouco!
Não podemos ignorar os pedidos de socorro que o nosso organismo
nos revela, devendo ficar atentos aos avisos dele. Se físicas são as doenças,
necessária a atitude prescrita pela medicina terrena para a prevenção ou cura delas.
Segundo, apesar de entender que as mazelas psicológicas estão
ligadas às espirituais, farei uma divisão das duas para uma melhor reflexão.
Ao me referir a doenças psicológicas, não estou somente me
referindo às que já portávamos, mas também àquelas que estamos adquirindo ou nos
curando, no curso desta nova jornada.
Vimos com essa pandemia que:
1) muitos pais ou casais se desesperaram por
acreditarem que não aguentariam ficar com a sua família reunida por “tanto
tempo” dentro do seu próprio lar;
2) que muitas pessoas ficaram contrariadas por terem
a certeza de que não ter o contato social com amigos e familiares seria um desafio
terrível;
3) dentre outras reações...
Tudo isso nós vimos, mas isso tudo está sendo superado? Por alguns,
sim. Por outros, ainda não.
Se tantos medos vamos abraçando concretamente, a tal doença psicológica
afeta os nossos sentimentos dos mais superficiais até os mais profundos; vai
nos colocando cada vez mais enfraquecidos diante das experiências em razão das
crenças que vamos abraçando. Mas, o que estamos fazendo para nos curar? Talvez,
nada. Talvez, muita coisa.
Se algo pode ser feito, é certo afirmar que a vida está nos
dando uma oportunidade, porque, ao termos sido expulsos da nossa vida rotineira,
angariamos tempo ou uma nova rotina que nos colocou frente a alguns de nossos
medos mais antigos e, muitos deles, foram exatamente esses que acabei de
enumerar.
Vocês estão confusos? Eu explico: somente o fato de não
acreditarmos que daríamos conta de situações como essas, nos faz refletir sobre
o porquê de termos de vivenciar esse momento em nossa vida, senão vejamos:
1) o quanto não estávamos evitando vivenciar essas mesmas
situações a cada dia do nosso viver?
2) por que estávamos mergulhando às cegas na rotina
que nos afastava de nosso lar, das pessoas que amávamos, dos prazeres simples que
somente aqueles que nos amam podem nos proporcionar?
3) por que acreditávamos que seria difícil compartilhar
o nosso tempo com o companheiro ou companheira com quem escolhemos viver?
4) por que acreditávamos que não daríamos conta de
nossos filhos, se eles estão conosco desde que nasceram e os amamos?
E, por fim, uma última pergunta: será que, antes disso tudo
acontecer, estávamos evitando quem amamos ou a nós mesmos?
É fato notório que muitos de nós, antes da pandemia, estávamos
usando da rotina diária para vivermos, e não para vivenciarmos o nosso próprio Eu.
Não parávamos nem um segundo para analisar:
1) quem realmente nos tornamos,
2) quais as conquistas íntimas adquiridas,
3) como poderíamos nos virar diante de situações
que fogem ao nosso controle,
4) o sentimento que pulsa dolorosamente em nosso
íntimo, fazendo-nos tentar pará-lo com um trabalho de doze horas diárias, desordenado
e intenso; com bens materiais perecíveis e efêmeros; com um viver voltado ao
externo e não ao interno.
Essa doença psicológica que já demonstrava a sua presença em
nossa vida e que agora nos toma por inteiro, fazendo-nos acreditar que jamais
conseguiríamos preencher o vazio que sentimos, está à nossa frente porque todas
as ferramentas que usávamos para ignorá-la, foram retiradas abruptamente de
nosso poder.
Ela é tão danosa que, mesmo na antiga rotina de tentarmos ignorar
as nossas dores, já víamos o seu rastro, quando, muitos jovens e adultos,
crianças até, escolhiam uma saída terrível, por demais dolorosa para quem
ficava, por não se acreditarem capazes de enfrentá-la.
Daí, vemos a sua relação com a tal doença espiritual, que
nos leva a estados da alma mais nefastos. Pior ainda, quando não percebemos que
o outro estado (físico) já está sendo influenciado intensamente, fazendo-nos doentes
na alma e na matéria, nos perdendo de nós mesmos. Perdendo-nos, não temos o
porquê achar que merecemos a cura.
Mas, não há dúvidas que todos nós queremos ter saúde, só não
agimos com atenção e autoamor suficientes para vermos os caminhos aflitivos aos
quais nos submetemos, somente pelo fato de ainda acharmos que devemos enxergar
a vida pelos olhos da matéria e não pelo que sentimos em nosso ser (olhos da
alma).
Por isso, somente depois de um período em que ficamos submetidos ao afastamento social, percebemos que “há males que vem para o bem”, porque ele está nos dando uma notável oportunidade de perceber o que existe nos recôncavos de nosso ser e o que podemos fazer em prol de nossas necessidades, sejam elas internas ou externas, por nós ou por aqueles que amamos.
Se desejamos estar saudáveis, precisamos entender que muitas
de nossas mazelas são silenciosas e, para as flagrarmos, precisaremos estar
atentos, vigilantes e jamais nos descuidarmos de nós, fortalecendo-nos com o
alimento da alma e do físico, valorizando-nos nas pequenas conquistas dos
tesouros espirituais e materiais angariados.
Assim, conquistaremos a nossa saúde, porque num mundo onde
matéria e espírito vivem, não podemos deixar nenhum dos dois desamparados.
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