Nós, seres humanos, principalmente do Ocidente, não somos
acostumados com o silêncio e quando nos deparamos com ele, buscamos qualquer
coisa para fazer para não nos “entediarmos”.
Ouvimos rádio, lemos livros, entramos nas redes sociais,
conversamos com alguém ao nosso lado... tudo para não ficarmos sozinhos com
alguém que é muito especial para nós, mas que está sendo colocado de lado dia a
dia: o nosso Eu interior.
Quem de vocês hoje se deu bom dia? Sim, se deu bom dia!
Não estou dizendo dar um bom dia e ser grato pela vida, pelo sol, pelo trabalho,
por Jesus... estou perguntando quem deu bom dia para si mesmo e se desejou um
ótimo dia de grandes aprendizados?
Parece redundância quando pensamos que se estamos gratos
pela vida, estamos gratos por existirmos!! Infelizmente, não é bem assim!
Nós podemos agradecer por tudo que há ao nosso redor, mas,
neste tudo, nem sempre estamos nós.
O QUE FAZEMOS ENTÃO?
Infelizmente, o que vemos hoje é que estamos nos voltando para
dentro de nós somente quando:
- não aceitamos que ainda somos aprendizes e que cada um, inclusive nós, tem o tempo certo para apreender a lição ofertada pela vida;
- queremos apontar cada um dos nossos erros pessoais e dizer o quanto estamos decepcionados conosco por termos agido e produzido um resultado que não nos agradou;
- queremos nos condenar com o peso de todo o nosso rancor e, em razão de nossa ignorância, nos mantemos encarcerados dentro de nós sem termos nos dado a chance de um julgamento mais justo.
Então, massacrados e aprisionados cada vez
mais, nos mostramos para o mundo externo como amantes de nós mesmos, mas,
algozes pelas raias da loucura de tantas atrocidades que fazemos conosco.
A pergunta é: merecemos “ouvir” tudo isso?
Sei que estamos acostumados a raciocinar para darmos vazão
aos necessários aprendizados que nos elevam, mas, existem momentos que
precisaremos ir para o deserto e jejuar por quarenta dias. (Mateus 4:1-11)
Jesus, na sua forma incrível de ensinar, nos alertou também nessa
passagem que todos nós precisamos nos possibilitar:
- o jejum dos pensamentos mundanos,
- o jejum das autocobranças,
- o jejum dos encarceramentos mentais,
- o jejum dos julgamentos insanos, etc...
É aí que entra o silêncio.
Jesus dizia: quem não tem pecado que atire a primeira pedra. (Jo 8:1-11)
Não há lição maior do que esta quando aplicamos tal
ensinamento frente às nossas iniquidades, percebendo, portanto, que nós
também podemos errar; percebendo, portanto, que, se nós também erramos,
o alvo a quem Jesus se referia não era somente o outro, mas também nós
mesmos, porque, por não sabermos tudo, ainda estamos “pecando” e “errando”,
“pecando” e “buscando acertar”.
Não merecemos tanto peso no julgamento a que nos submetemos.
Nós, como juízes, precisamos nos silenciar para “escutar” as
vozes que nos ajudarão a compreender a nossa natureza íntima e, principalmente,
a natureza deste grande Universo que nos abriga.
Será pelo silêncio (que no início nos parecerá ensurdecedor)
que “ouviremos” o que é realmente importante: a nossa voz interior. Uma voz de
nossa essência, uma voz que está conectada a tudo e a todos e que nos ama e
compreende.
Será pelo silêncio que nos daremos a chance de descansar a
nossa mente de tantas cobranças e tantas batalhas contra nós mesmos, mas
principalmente nos reconectarmos conosco.
Parece incoerente para vocês o que digo?
SILENCIAR OU FALAR
Se precisamos ficar em silêncio, como poderemos nos escutar?
Pensem comigo: se estivermos num show, com música alta, teremos
condições de escutar quem está ao nosso lado?
Hoje, estamos todos neste show: vivemos num fluxo de atividades
e tumulto mental de toda espécie que nos impedem de escutarmos o que é
importante e quem está mais próximo de nós. Pioramos a situação quando, por
adorarmos a música que nos cerca, não buscamos prestar atenção naquele que
muito tem a compartilhar conosco, mas que não está tendo a chance de ser ouvido.
Precisamos nos silenciar para que escutemos quem realmente
precisa se manifestar. Por vezes, será a nossa essência, outras vezes, o nosso
Criador. E afirmo que precisamos nos silenciar porque nenhum deles falará, mas
sim, “se” emanará. Sentiremos tudo isso, e tudo isso nos trará a certeza do
quanto estamos amparados e prontos para enfrentarmos as experiências que nos
farão maiores e melhores.
Como em uma preparação para o vestibular, entramos em cursinhos que nos darão mais confiança daquilo que sabemos e nos darão mais
embasamento para outras questões ainda não dominadas.
Devagar, pelo silêncio, nos refletiremos e, portanto, nos conheceremos
melhor.
Assim, teremos mais chances de um viver em paz conosco e um julgamento
mais justo de nossa parte.
MAS, COMO FAZER ISSO?
Vou dar uma dica simples, mas outras muitas existem por aí.
Procurem um lugar tranquilo em seu ambiente material e,
depois, em sua mente, onde vocês podem estar com alguém que é muito especial. Acreditem
que este alguém tem muito a ensinar, mas que ele é educado e fala baixo. Por
isso, há uma necessidade de fazer todos os outros e as outras coisas se
calarem.
No início, parecerá impossível porque a nossa mente é expansiva
e faladeira, mas devagar, vai se distanciando do que ela tem a lhe dizer; não
se conecte com o turbilhão de assuntos que ela traz.
Logo no início, o silêncio não existirá em sua plenitude,
mas poderá ser sentido (como uma paz interior) cada vez maior, mesmo com a nossa
mente querendo fazer-se presente.
Sinta-se relaxado fisicamente e parte a parte de seu corpo vai tendo noção de sua existência através das sensações. Depois, quando todas
as partes externas forem escaneadas, viaje para o seu mundo interno e deixe-se aconchegar
nele.
Deixe-se ficar ali, como se flutuasse em uma rede na
varanda, em um ambiente gostoso onde parece que só existe você, a natureza e
Deus.
Não precisa temer imagens de onde você está. Se precisa delas,
deixe-as ficar.
Não precisa ser um momento longo. Poucos segundos dessa sensação
consigo e com Deus dará a você a certeza do quanto somos capazes de ir além e que
tudo aqui é transitório, e que a vida é muito mais.
Nada precisa ser pronunciado, só sentido.
O silêncio de sua alma levará ao seu juiz interior tudo o
que ele precisa para lhe conhecer melhor (sem escárnio, sem preconceito) e, com
isso, lhe julgar com mais amorosidade concedendo-lhe a liberdade que necessita para
enfrentar as novas experiências.
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