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Algumas
experiências passarão sem nos apercebermos delas e outras, serão lembradas por um
instante. Outras ainda, por toda uma vida carnal, mas algumas, irão muito além.
Isso porque elas nos marcarão e se o fizeram, foi porque, positiva ou
negativamente, nos chamaram a atenção para algo importante que há em nós.
Sendo assim,
que relevância elas terão para nós? E quais delas serão consideradas verdadeiros
fardos que preferiríamos não as ter vivenciado?
Primeiramente,
precisamos entender o que é um fardo!
Desde quando
eu comecei a estudar a doutrina espírita sempre pensei em fardo (= algo
volumoso e pesado) como tudo aquilo que vivenciei (ou vivencio) que foi (ou é) ruim
e que me trouxe (ou traz) desconforto de alguma forma, ou seja, sempre escutei
a palavra “fardo” junto à ideia de alguma adversidade na vida do ser em
crescimento!
Mas, quanto
mais eu estudo e escuto a espiritualidade, quanto mais eu me aprofundo nos
conceitos cristãos desta doutrina, mais eu percebo que fardo é nada mais nada
menos do que a somatória de inúmeras experiências que me fizeram dar mais um
passo para a minha evolução, independentemente de ter sido positiva ou não.
Assim, não
podemos simplificar o fardo como se fosse somente as experiências que consideramos
negativas, porque as positivas também nos fizeram amadurecer a visão das circunstâncias
vivenciadas. Se não entenderam, eu explico: como posso pensar que o fardo é
somente uma experiência negativa (e assim menosprezá-lo) se tudo o que eu vivo
me acrescenta algo que me dá condições de me superar?
Todo fardo
tem o significado de conjunto: fardo de cerveja, fardo de roupas, fardo de
palha... Todos eles são formados por seus inúmeros elementos independentes,
que, sendo iguais ou diferentes, juntos formarão o “fardo”. Também assim é a
vida. Os fardos que enxergamos em nossas experiências são, cada um deles, um
conjunto de todos os elementos que vivencio para superar determinada
circunstância, com o qual vou amadurecer. E não conseguirei atingir o meu
intento sem a somatória de todas elas: das boas ou não tão boas lições da vida.
Se assim é, por que acredito que os meus fardos são pesados? Porque, ainda, pela minha imaturidade,
não enxergo o benefício dessas mesmas experiências e me agarro à ideia do peso reunido
das circunstâncias que me atormentam o coração, não deixando as boas experiências
trazerem leveza ao pacote inteiro.
Ainda, deixo
de enxergar elemento por elemento, o que poderia aliviar o tal peso: se o
fardo de cerveja está muito pesado para transportá-lo, aquele que o carrega, pode
encarregar-se de retirar do engradado as garrafas vazias para que o peso do fardo
fique no limite de suas forças. Nesta exemplificação, tento mostrar que, na
maioria das vezes, somos nós que desejamos carregar um peso desnecessário ou tudo
de uma vez só, mesmo quando já podemos escolher dar um fim imediato e útil a algumas
experiências que as formam.
Quando nos incomodamos
com determinadas situações, isso já é um sinal que poderíamos ter mudado ou deixado
alguns desses elementos pelo caminho, mas por nossa livre escolha não nos desagarramos
deles. Assim, vejamos: poderemos ser levados a vivenciar um relacionamento abusivo
(por sabermos, inconscientemente, que ele será útil ao nosso crescimento), mas
jamais estaremos presos a ele. Se estamos, é porque acreditamo-nos dele
merecedores e não nos desapegaremos dele até que compreendamos essa verdade.
Em uma
síntese, a cada dia, nos deparamos com inúmeras experiências que nos levarão a nos sentir felizes ou tristes, ansiosos ou esperançosos, indignados ou
satisfeitos... Tais experiências serão por nós absorvidas como momentos de
vivências, em cuja circunstância tivemos uma reação frente aos resultados
conquistados. Poderemos abandonar várias posturas e empreender mudanças
substanciais no nosso viver, mas para isso
haverá desgaste. Para cada resultado,
daremos a nossa nota que estará intimamente ligada à nossa interpretação sobre aquilo
que foi para nós bom ou não tão bom. Daí, nos vem a noção do peso de nossos
fardos!
Que possamos
entender que nada nos é trazido para retroagirmos em nosso caminhar, e que o
objetivo da vida não é nos deixar alquebrados pelo caminho por carregarmos
pesos excessivos, mas sim que aprendamos que tudo nos é (ou nos foi) útil e
enquanto acreditarmos que os nossos fardos são formados somente das
experiências “negativas”, as positivas jamais amenizarão os seus pesos.
Qual é o peso
do nosso fardo? Aquele que desejarmos lhe dar.
Ótimo texto para reflexão. Há uma frase de Proust que diz "Tudo que foi um prazer, torna-se um fardo quando não mais o desejamos". Essa frase poderia simplificar tudo, mas ainda nós fazemos questão de carregar nossos fardos por algum tipo de penitência.
ResponderExcluirHenderson, não conhecia esta frase de Proust. Obrigada por dividir conosco esse ensinamento. Talvez para alguns, o carregar esse fardo não é um tipo de penitência, mas sim a não constatação de que ele deixou de ser útil. Muitas vezes, levamos algum tempo para nos libertar daquilo que nos foi caro, por ainda acreditarmos que ele continuará a nos fazer felizes. Felizmente, isso é passageiro e agiremos em prol de nós mesmos em algum momento no nosso presente. Abraços.
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