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Não quero falar,
neste artigo, da dor dos suicidas que, vendo-se sem forças, optam por um
caminho tão drástico e sem retorno. Não quero falar da cegueira que os consome,
a ponto de não enxergarem a sua importância no mundo, nem que seja no mundo de um
outro alguém!
Eu quero conversar
sobre a dificuldade de algumas pessoas para sentirem o que uma outra sentiria caso
ela estivesse na mesma situação vivenciada; dela não tentar compreender os sentimentos
e as emoções do outro, não procurando experimentar de forma objetiva e racional,
mas, na pequenez de nossos sentimentos, o que aquele indivíduo poderia estar
sentindo.
Infelizmente,
seja pela crise financeira que o mundo está passando (e aqui no Brasil não é
diferente), seja pela corrida exacerbada em que todos nós nos metemos (onde se
exige que o Ter é mais importante que o Ser), o número de pessoas insatisfeitas,
desesperadas e desesperançosas ao nosso redor somente aumenta. Tais sensações e
sentimentos podem nos fazer acreditar que não somos capazes de superar as
dificuldades, que não há mais caminhos a serem trilhados, que não temos mais outras
escolhas a fazer...
Tal é essa a
realidade que, em 2015, foi criada uma campanha de cunho nacional chamada “Setembro
Amarelo”, para que a conscientização e prevenção ao suicídio tomassem força e
chamassem a atenção de muitos para essa triste realidade. Desde que ela
começou, cada um de nós pôde compreender um pouquinho mais sobre esse assunto pois,
até pouco tempo atrás, falar sobre isso era um “tabu” e não falar sobre isso
significava não sabermos identificar ou como ajudar a quem precisava.
Que a dor dos
nossos irmãos tem um motivo, todos nós sabemos, mas o que faz aquele que não
vive essa dor menosprezar a dor alheia? Como podemos olhar para um irmão em
desespero e dizer que tudo o que ele sente é “frescura”, que o que lhe falta é “vergonha
na cara”, que ele é um “covarde” por não enfrentar a vida ou que o que ele quer
“é chamar a atenção”?
Nenhum filho
de Deus quer morrer. Essa é a verdade! Todos temos um senso de preservação pautado
nas leis perfeitas e imutáveis do Pai. Para infringirmos tais leis, a dor sentida
ou a sua incompreensão em nosso ser precisa ser imensurável e para chegar a tal
ponto, leva tempo! Só isso já seria bastante para compreendermos que toda ação
junto a um possível suicida tem que ser preventiva.
Mas, como
agir preventivamente junto a este irmão se estamos nos anestesiando diante da
dor alheia? Se não queremos compreendê-lo ou, pior, o criticamos veementemente
com escárnio ante a sua tentativa ou efetiva ação?
Infelizmente,
nestes últimos tempos, tive conhecimento de algumas tentativas de suicídio na
minha cidade. Surpresa, ouvi, não uma nem duas vezes, quando alguém tentava se
suicidar (e por isso “atrapalhava” o movimento da ponte movimentada em que
estava), que “ele deveria escolher melhor o horário de fazer isso porque estava
atrapalhando a vida de todo mundo”. Em outra situação, ouvi também que “ele
deveria se jogar logo e não ficar fazendo drama”. Oh, meu Deus! No que,
realmente, essas pessoas estão baseando a sua vida? Onde está a sua humanidade quando
escarneia diante da dor alheia? Os bombeiros levaram, em uma dessas tentativas,
três horas para demover tal pessoa de cometer aquele ato fatal e algumas
pessoas, que queriam passar pela tal ponte, diziam que eles estavam “gastando”
tempo demais! Fico eu a pensar que, se fosse um filho ou um dos pais daquelas
pessoas, se elas não desejariam a mesma dedicação e o mesmo tempo “gasto” para
socorrerem alguém que lhes é caro!
Essa vida é
passageira e tudo o que estamos conquistando, materialmente falando, é mais
passageiro ainda. Precisamos estar atentos para não nos perdermos na busca
desenfreada dos tesouros equivocados, porque acumular somente os tesouros
mundanos não nos salvarão de nossa consciência culpada quando a vida nos
mostrar que aqui pobres chegamos e pobres poderemos retornar.
Que estejamos
atentos às nossas necessidades, mas jamais cegos às necessidades do nosso
próximo, porque aí também está a essência da conquista de nossos verdadeiros
tesouros.
Valorizemos
aquilo que nos dá o direito de sermos chamados de seres humanos: nosso
raciocínio aliado às nossas emoções e sentimentos. São eles que nos fazem empáticos
à presença e necessidade do outro e que nos demonstram, através de nossas
ações, o quanto já nos adiantamos em nossa jornada evolutiva.
Valorizemos a
vida como um todo, para que não percamos a nossa tão preciosa humanidade.
Sempre uma bos leitura, de muito aprendizado. Nos faz refletir. Parabéns.
ResponderExcluirObrigada, Dr Fábio. Fico muito feliz em poder levar as minhas reflexões aos corações alheios. Gratidão.
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