É muito comum escutarmos “por
aí”, expressões do tipo, “Fulano é o meu carma!”. Mas, o que significa essa
frase em nosso contexto de vida?
No conceito budista, Carma é o
resultado direto de nossas ações no passado, sejam elas boas, não tão boas ou
até mesmo neutras. Por consequência, estas ações acarretariam para nós frutos
de mesma intensidade e qualidade, ou seja, vivenciaríamos experiências boas,
não tão boas ou neutras, respectivamente, em nosso presente.
O problema é que, na generalidade,
as pessoas não entendem o carma sob este aspecto. Pensam que se algo de ruim
acontece é porque foi o destino que lhes trouxe uma experiência para
purgarem os seus erros do passado e que nada do que fizerem poderá mudar tal
situação.
Se abraçamos essa ideia equivocada do carma, ela pode nos
trazer grandes atrasos, por ela não conseguir responder aos nossos anseios. Quando
eu afirmo que algo é meu carma e que não posso fazer nada para mudá-lo, eu
coloco um peso enorme sobre os meus ombros e acabo me tornando impotente para
enfrentá-lo. Se me vitimizo ou não quero enxergar como esse algo pode estar na
minha vida, não conseguirei utilizar dos instrumentos que já conquistei para
lidar com o possível problema.
Ainda, quando eu penso no
conceito certo do Carma, se tudo o que vivo é um reflexo do que já fiz,
eu não abranjo as escolhas que faço, conscientemente, para concluir minha
purificação e apressar o meu progresso. “Não se deve pensar que todos os
sofrimentos suportados neste mundo sejam necessariamente a indicação de uma
determinada falta”.[1]
Por isso, precisamos ir além.
Quando penso em qualquer experiência
de minha vida, não consigo desvinculá-la jamais da ideia do livre arbítrio, de
escolhas que são minhas. Toda ação ou omissão de minha parte advém da minha
livre escolha em agir dessa ou daquela forma. Isso significa dizer que os
resultados de meu livre arbítrio construirão a vida que viverei no meu presente.
Todas as minhas experiências são
um reflexo de minhas escolhas. Cada movimento que faço ou não faço, cada ação
ou pensamento que tem por base as minhas escolhas, me darão condições de eu
construir um mundo completo e complexo. E será nesse mundo em que eu terei que
viver. Mesmo quando eu penso no outro fazendo parte deste mundo, ele terá agido
conforme as suas escolhas fazendo com que os nossos mundos se interliguem e que
as consequências de nossas ações sejam compartilhadas entre nós.
Sobre as experiências a serem
vivenciadas, o que admiro nas leis que nos regem é que, seja qual for o grau
evolutivo que eu tiver, ante uma ação equivocada ou não que eu cometer, elas
incidirão sobre mim exatamente na proporção do meu conhecimento; de minha
capacidade de compreender as experiências que me chegam; da minha evolução. Portanto,
a incidência da lei estará vinculada não somente ao resultado de minha ação,
mas, principalmente, à minha verdadeira intenção.
Resumidamente, então, somos nós
que escolhemos, através de nossas próprias ações, passar por experiências
boas ou não tão boas que nos trarão o aprendizado e o progresso.
Então, se eu uso da maledicência e não percebo o quanto esta ação é maléfica
para mim e para o outro, estou já, inconscientemente, construindo em minha
vida, no tempo certo e oportuno, uma experiência que me trará esse
entendimento. Friso, no entanto, que não significa, necessariamente, que
seja a própria maledicência ou algo ruim aos meus olhos o objeto de meu
aprendizado, mas, por incidência e sabedoria da lei, algo apropriado me
ensinará.
Os efeitos que vivenciamos, vida
após vida, estão relacionados às escolhas que fazemos. E esses efeitos
nada mais são do que infinitas oportunidades de aprendizados para o nosso
crescimento. Por isso, o “Fulano” acima não está acompanhando o “Sicrano” por
acaso ou por punição deste último, mas por utilidade e necessidade de ambos. Aí
está a grandeza das Leis Divinas que nos regem.
Carma ou Escolhas? O que vocês
acham?
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