Quem são aqueles que chamamos de demônios?



Algumas semanas atrás participei de uma palestra sobre esse tema, tendo o livro “O Céu e o Inferno”, de Allan Kardec, em seu capítulo 09, como base. Em razão disso, resolvi conversar um pouquinho com todos vocês sobre esse assunto, sem, contudo, querer esgotar o tema.

Para não ficarmos muito repetitivos, queremos dizer que esse capítulo, do livro em questão, nos traz uma ideia histórica bem interessante sobre essas personificações que, há muitos anos, estão nos influenciando e nos trazendo temores aos nossos corações, todas às vezes que pensamos que o mundo espiritual interage com o material. Peço que o leiam para o seu enriquecimento interior.

Vamos iniciar, afirmando que a figura do demônio, para a humanidade, aterroriza alguns e traz fascínio a outros. Isso porque a concepção dada a palavra demônio na antiguidade não é essa que conhecemos hoje. Ela significava a personificação de um gênio, espírito do bem ou do mal, não havendo, portanto, diferença em sua utilização. Todos éramos demônios quando estávamos nos planos imateriais!

Foram nas religiões judaica e cristã que essa figura passou a representar somente o Mal.

A teoria mais famosa, mas não a única, que deu embasamento a ideia dos demônios foi a “dos Anjos Decaídos” que, por liderança de um arcanjo (Lúcifer) contra as determinações de Deus sobre o futuro glorioso dos humanos, se rebelaram e foram expulsos das Glórias Divinas, tornando-se renegados e influenciadores maquiavélicos daqueles que habitavam os orbes terrestres.

Diante dessa ideia, reencarnação após reencarnação, fomos “doutrinados” sobre a existência deste mal e de não sermos capazes de vencer tais demônios (anjos decaídos), porque seriam inimigos poderosos e invisíveis aos nossos olhos. A benesse, no entanto, de estarmos à mercê desses demônios é que não seríamos completamente responsáveis pelas nossas ações, pois a desmedida influenciação desses seres era implacável. Posição extremamente confortável, diga-se de passagem, para todos nós.

Com o passar do tempo, no entanto, não há mais como afirmarmos a nossa falta de responsabilidade diante de nossas escolhas. Sentimos em nosso ser as consequências de nossas ações e tais efeitos desmentem as crenças anteriores de isenção de responsabilidade.

Por isso, o espiritismo, com as suas explicações, nos dá mais segurança no trato com essas questões de cunho prático, porque se interagimos o tempo inteiro com o plano extrafísico, tal contato é diário.

Os “demônios”, naquela concepção dada acima, não existem. O espiritismo[1] simplifica e nos responde aos nossos questionamentos mais íntimos: “nem os anjos nem os demônios são seres à parte (...). Desde o instante de sua formação, progridem, seja no estado de encarnação, seja no estado espiritual (...), de sorte que, desde o embrião do ser inteligente até o anjo, há uma cadeia ininterrupta, da qual cada elo marca um grau no progresso. (...) Há Espíritos, por consequência, em todos os graus de saber e de ignorância, de bondade e de maldade. Nas classes inferiores, há os que estão ainda profundamente inclinados ao mal, e que nele se comprazem. Querendo-se, pode-se chamá-los de demônios, porque são capazes de todas as ações feias atribuídas a estes últimos.”

Ou seja, os seres chamados de “demônios” (denominação atribuída pela Igreja) são, verdadeiramente, todos aqueles espíritos que ainda não atingiram os patamares da evolução que os retire das provas e expiações; que ainda se encontram nos caminhos tortuosos da ignorância e da dor; que, em razão de sua ignorância, optam por caminhos mais prazerosos que não os levam a uma elevação moral, mas que lhes oportunizam aprendizados sempre, dando-lhes, de uma forma ou de outra, a oportunidade de ascenderem em algum momento...

Queiramos ou não, tais demônios somos todos nós (em qualquer plano de nossa existência) que ainda teimamos em agir não atendendo aos ditames da moralidade ensinada pelos Grandes Mestres da Humanidade.

Desmistifiquemos, portanto, a ideia de não nos responsabilizarmos pelas nossas ações ante uma influenciação demoníaca, porque esta pode ser por nós flagrada e combatida. Estes seres são pessoas como nós. Se não os resistimos é porque pensamos igual, desejamos agir conforme, desejamos atuar segundo a orientação dada! É uma escolha nossa!

Assim, diante de nossa evolução íntima, hoje, podemos afirmar que essa expressão (demônios) não é mais adequada, porque todos nós somos filhos de Deus, não importando os caminhos que trilharmos. “Se o espiritismo não lhes dá esse nome [demônios], é porque se liga à ideia de seres distintos da Humanidade, de uma natureza essencialmente perversa, votados ao mal pela eternidade e incapazes de progredirem no bem.”

Sabemos que não somos assim. Que fique claro que temos em nós uma parte Divina e nela há o bem em sua mais pura essência.

Não somos demônios! Somos seres amados, criados puros e ignorantes que temos como missão caminharmos para o Pai, aprendendo e caindo, aprendendo e crescendo. É simples assim!






[1] In “O Céu e o Inferno”, de Allan Kardec, cap. 9, p. 108, Editora Boa Nova.

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