Sei que muitos escritores, muito
mais capacitados do que eu, já escreveram sobre esse assunto, mas, como alguns
amigos pediram para eu comentá-lo, irei colocar nessas singelas linhas a minha
humilde opinião.
Achamos natural pensar que tudo o
que acontece no mundo, seja no âmbito individual, seja coletivamente, que é
carma e que tudo é resgate.
Quando tomei conhecimento sobre o
“surto” de microcefalia, transmitida pelo Zica vírus, que estava atingindo os fetos,
fiquei preocupada. Para quem ainda não sabe bem o que é, a microcefalia é uma
doença em que a cabeça e o cérebro das crianças são menores que o normal para a
sua idade, o que prejudica o seu desenvolvimento mental, porque os ossos da
cabeça, que ao nascimento estão separados, se unem muito cedo, impedindo que o
cérebro cresça e desenvolva suas capacidades normalmente.[1]
Mas, a minha preocupação não era
porque enxerguei esse “surto” como um resgate para aqueles irmãos que estavam
chegando e suas famílias, mas sim, porque acredito que tudo isso faz parte da
lei de ação e reação frente às ações inconsequentes dos habitantes desse
planeta, inclusive eu.
O Zica vírus nada mais é do que
uma consequência das nossas ações equivocadas. Se pensarmos só no Brasil, veríamos
que a dengue e o Zica vírus jamais se alastrariam se todos entendessem que é a
ação individual que impede a proliferação do seu transmissor (o mosquito). Nosso
povo ainda não entende que fazemos parte de um grande quebra cabeças e, se
algum de nós se recusa a fazer parte do todo, esse quebra cabeças não se
completará.
Inúmeros são os pensamentos de
que os recém-nascidos vieram com este tipo de doença para resgatarem os seus
débitos, que seria um carma coletivo, etc, e fiquei me perguntando se
generalizar essa situação é a melhor solução.
Até acredito que alguns desses
espíritos possam ter aproveitado dessa circunstância para, acometidos dessa
doença, aprenderem sobre o que é viver sendo alvo das ideias predominantes de uma
sociedade (ideias recheadas de preconceitos ou, ao revés, de sabedoria e compreensão);
sobre ter que viver a vida com algumas limitações e, portanto, terem que
ultrapassar os seus próprios limites. Acredito também que as suas famílias
tenham aceitado a vinda de um filho especial,
para ultrapassarem várias de suas barreiras internas ou trazerem o exemplo de
solidariedade e dedicação que ainda não são predominantes no mundo... Por isso,
não há porque dizer, generalizando, que todos os afetados são espíritos
incautos e necessitados de sofrimentos para evoluírem.
Estamos em um patamar de
crescimento moral que todos nós, com raríssimas exceções, participamos de nossa
programação de vida, subtendendo, por consequência, a nossa conscientização nas
escolhas de nossas experiências.
Nosso mundo está passando por um
período em que as provas e expiações ainda existem, mas é para a regeneração
que todos estamos voltados: a regeneração de nossas tendências, a regeneração
de nossas ideias e de como poderemos viver na coletividade sem a sombra do
individualismo severo.
Essa doença, um dos muitos
sintomas do Zica vírus, é somente mais um instrumento de evolução aproveitada
pela espiritualidade maior para o crescimento de todos os envolvidos que, num
mundo globalizado como o de hoje, somos todos nós.
Precisamos desmistificar a ideia
de que só crescemos pelo sofrimento e perceber que todas as experiências pelas quais passamos são instrumentos
valorosos de crescimento e aprendizado, até as que consideramos maravilhosas.
Isso se dá hoje em razão de nossa evolução. Não precisamos sofrer para
aprender!
Uma vez, fui surpreendida com uma
declaração da espiritualidade que dizia o seguinte: o fato de alguém viver na
pobreza ou na doença, não significa falta de elevação, não significa carma ou
resgate insuperável. Muitas vezes, aquele que achamos que tem uma vida sem
turbulência, que está na riqueza e que invejamos a sua vida é quem, normalmente,
não teria condições de vivenciar momentos de grandes distúrbios. Se fossem
submetidos a eles, não conseguiriam superá-los, pelo menos não agora.
Nós não sabemos de nada! Nós não
temos noção das dificuldades alheias! Nós não sabemos o que os levará a
crescer, a se superar, a se compreender a ponto de se sentirem vitoriosos no
ano letivo dessa Escola da Vida.
Se a base das leis divinas não é
a punição, mas sim o aprendizado como um todo, então, acredito, genericamente, de
todo coração, que esse “surto” de microcefalia, tão falado por todos nós, é
muito mais uma ferramenta de vivência para o indivíduo com irradiação para toda
a humanidade do que um instrumento punitivo de resgate deste mesmo ser.
Por fim, gostaria de acrescentar uma
frase dita por Dona Modesto[2],
para uma mãe que muito necessitava de consolo: “Sua filha não é especial, sua
filha é um caso de amor”.
Quero crer que todos nós somos!
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